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Dor crônica – especialista explica causas, tratamentos e orientações para o dia a dia

A dor crônica é uma realidade complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Entenda desde as causas até as estratégias de tratamento, bem como uma abordagem integrada para proporcionar alívio e qualidade de vida.

Você sabia que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a dor crônica afeta quase um terço da população? Este é um problema desafiador que impacta significativamente na qualidade de vida das pessoas. É uma condição que vai além do simples desconforto físico, envolvendo aspectos emocionais, sociais e psicológicos.
Neste artigo, o Dr. José Fábio Lana, especialista em medicina da dor, explora o que é a dor crônica, suas causas, diagnóstico e tratamento; além de oferecer orientações práticas para lidar com essa condição no dia a dia. Continue a leitura!

 

O que é a dor crônica?

A dor crônica é um problema de saúde complexo e multifacetado que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Definida como a dor que persiste além do tempo normal de cura, geralmente considerado entre 3 e 6 meses, essa condição pode transformar-se em uma enfermidade crônica por si só.

Pode ser contínua ou intermitente, variando em intensidade e podendo ocorrer em diversas partes do corpo. Ela se manifesta quando sinais de dor continuam a ser enviados ao cérebro, mesmo após a cura de uma lesão inicial.

 

De acordo com dados do Ministério da Saúde, 37% dos brasileiros acima de 50 anos têm dores crônicas.

Qual a diferença entre a dor crônica e a dor aguda?

Segundo o Ministério da Saúde, a dor crônica e a dor aguda diferem significativamente em muitos aspectos e necessitam abordagem distinta.

A dor aguda geralmente é nociceptiva, ou seja, surge de lesões ou inflamações em tecidos somáticos ou viscerais. Em contraste, a dor crônica pode ser tanto nociceptiva quanto neuropática, significando que pode ser causada pela persistência da dor nos neurônios, tanto no sistema nervoso periférico quanto no central.

 

Quais são as causas da dor crônica?

Conforme explica o Dr. José Fábio Lana (Ortopedista e Traumatologista CRM SP 133606 | RQE 55117) em seu artigo ‘Dor nociceptiva, neuropática e mista, o que são?’, as causas da dor crônica podem ser divididas em categorias. Veja a seguir:

Dor nociceptiva

A dor nociceptiva resulta de uma lesão tecidual contínua, com o sistema nervoso central permanecendo íntegro. Esse tipo de dor ocorre quando os nociceptores, que são receptores sensoriais específicos, são ativados em resposta a um estímulo potencial de dano. Normalmente, esses receptores estão inativos e só respondem a ameaças ao organismo, desencadeando a percepção da dor.

Exemplos comuns de dor nociceptiva incluem:

  • dor inflamatória;
  • dor traumática;
  • artrose;
  • osteoartrite;
  • dor visceral;
  • dor pós-operatória.

Dor neuropática

Por outro lado, a dor neuropática surge quando há um mau funcionamento dos nervos no sistema nervoso central ou periférico. Diferente da dor nociceptiva, a dor neuropática não está associada a uma lesão tecidual ativa, mas sim a danos neurológicos ou fatores psicossociais (dor psicogênica).

Exemplos de dor neuropática incluem:

  • dor nos nervos após herpes;
  • dor intensa no nervo trigêmeo do rosto;
  • dor intensa devido a diabetes;
  • dor nos nervos após um trauma;
  • dor pós-acidente vascular cerebral (AVC);
  • dor devido ao deslocamento de nervos;
  • lesões na medula espinhal.

Dor mista

Além dessas, existem situações em que a dor é considerada mista, combinando componentes nociceptivos e neuropáticos.

Exemplos de dor mista incluem:

·        cervicobraquialgias (dor cervical irradiando para o braço);

·        lombociatalgias (dor lombar irradiando para a perna);

·        adiculopatias cervicais, torácicas e lombares (compressão ou irritação de nervos espinhais);

·        dor oncológica;

·        neuropatias compressivas.

Dor nociplástica

Existe também a dor nociplástica, uma forma de dor crônica que é difícil de explicar e entender, em parte porque o termo é relativamente recente, tendo sido distinguido dos outros tipos de dor apenas nos últimos anos. Essa dor ocorre quando há uma alteração na forma como os nervos transmitem informações ao cérebro ou na maneira como o cérebro processa essas informações.

Essa disfunção pode resultar em uma sensibilidade dolorosa aumentada a certos estímulos. Em outras palavras, o corpo reage com uma resposta exagerada a estímulos que normalmente não causariam tanta dor. O exemplo mais comum de dor nociplástica é a fibromialgia, uma condição reumatológica caracterizada por dor generalizada e intensa em todo o corpo.

Quais consequências a dor crônica traz para o dia a dia?

Essa condição afeta profundamente a qualidade de vida dos indivíduos, impactando diversos aspectos do cotidiano.

Impacto emocional e psicológico

Pode levar ao desenvolvimento de comorbidades como distúrbios do sono, ansiedade e depressão. A constante sensação de dor gera um estresse emocional significativo, dificultando o descanso adequado e provocando sentimentos de desesperança e frustração.

Alterações no humor e apetite

A dor persistente pode causar alterações no humor, tornando as pessoas mais irritáveis e impacientes. Além disso, a dor crônica frequentemente afeta o apetite, levando a mudanças nos hábitos alimentares que podem resultar em perda ou ganho de peso indesejado.

 

Impacto social

Pessoas com dor persistente podem se isolar devido à dificuldade de participar de atividades sociais, levando ao afastamento de amigos e familiares. Esse isolamento social contribui para o agravamento dos sintomas de depressão e ansiedade, criando um ciclo vicioso.

Alterações na qualidade do sono

Distúrbios do sono são comuns entre pessoas com dor crônica. A dificuldade em encontrar uma posição confortável para dormir e a dor constante podem interromper o sono, resultando em fadiga e falta de energia durante o dia.

Incapacidade funcional e física

Atividades diárias simples, como caminhar, subir escadas ou carregar objetos leves, podem se tornar desafiadoras. Essa limitação física reduz a independência e pode exigir ajuda constante de terceiros, afetando negativamente a autoestima e a qualidade de vida.

 

Impacto na saúde geral

A dor crônica pode levar a uma série de problemas de saúde, incluindo a hipertensão, devido ao estresse contínuo e à falta de atividade física. Além disso, a dor pode interferir na adesão ao tratamento de outras condições médicas, complicando ainda mais o quadro de saúde do paciente.

Como é feito o diagnóstico da dor crônica?

Diagnosticar a dor crônica é um desafio devido à sua natureza subjetiva. Ao contrário de outras condições médicas como diabetes ou hipertensão, onde exames laboratoriais fornecem resultados precisos sobre o estado da doença, a dor não pode ser medida diretamente com testes específicos. Os médicos que tratam essa condição dependem principalmente do relato do paciente para entender a intensidade e a localização da dor.

Além dos relatos dos pacientes, os médicos também utilizam técnicas observacionais. Através da expressão facial, movimentos, apetite e outros sinais indiretos, os profissionais de saúde podem identificar diferentes graus e tipos de dor.

Como o exame de termografia auxilia no diagnóstico da dor?

Um recurso adicional no diagnóstico da dor é o exame de termografia. Este exame cria um mapa de calor do corpo, identificando padrões anormais que podem indicar problemas de saúde. A termografia é um método seguro, sem contato e indolor, capaz de avaliar grandes áreas do corpo de uma só vez.

A termografia pode ser usada para:

  • Identificar pontos de dor no corpo.
  • Avaliar problemas osteomusculares relacionados ao esporte.
  • Analisar a performance de atletas.
  • Identificar áreas de nervos afetados.
  • Realizar o diagnóstico diferencial entre origens central e periférica da dor.

Esse exame pode detectar precocemente doenças ou anomalias, fornecendo alertas importantes para o acompanhamento médico, ajudando a melhorar o diagnóstico e tratamento da dor crônica.

 

Existe tratamento para a dor crônica?

Sim, existem tratamentos para a dor crônica, e eles geralmente são multidisciplinares. Isso significa que o manejo da dor envolve uma combinação de diferentes abordagens e a colaboração de profissionais de várias áreas. Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, educadores físicos e nutricionistas trabalham juntos para criar um plano de tratamento personalizado para cada paciente.

A medicina regenerativa tem se mostrado uma poderosa aliada no tratamento da dor crônica. Utilizando técnicas inovadoras que promovem a reparação e regeneração dos tecidos danificados. Essa abordagem tem proporcionado alívio significativo para muitos pacientes.

 

“O diagnóstico bem feito por um profissional capacitado, com a colaboração do paciente, pode ser a chave para a indicação adequada de tratamento e consequente melhora da qualidade de vida do paciente. “

Dr. José Fábio Lana CRM SP 133606 | RQE 55117

Ortopedista e Traumatologista

A seguir, vamos explorar alguns dos tipos de tratamentos que podem ser utilizados no manejo da dor crônica.

Bloqueios da dor guiados por ultrassonografia

Este procedimento utiliza a ultrassonografia para orientar a aplicação de injeções de anestésico local, frequentemente combinado com outros medicamentos, com o objetivo de aliviar a dor. Pode ser realizado tanto para diagnosticar e prever a evolução de condições dolorosas quanto para tratá-las. Essas injeções ajudam a interromper a transmissão dos sinais de dor ao sistema nervoso central, oferecendo alívio para diversas situações de dor.

ESWT / TOC – Tratamento por Ondas de Choque

A Terapia por Ondas de Choque é um método não cirúrgico que usa ondas de choque para tratar áreas do corpo relacionadas a músculos, ossos e tendões. É recomendada para reduzir a dor e auxiliar na cicatrização de tecidos moles, como tendões inflamados, calcificações e fraturas que não cicatrizaram corretamente. Este tratamento visa aliviar desconfortos e promover a recuperação dos tecidos afetados.

 

Viscossuplementação com ácido hialurônico

A viscossuplementação com ácido hialurônico é um tratamento destinado a aliviar a dor e melhorar a mobilidade das articulações. Age como um “lubrificante” para as articulações, diminuindo o atrito entre ossos e cartilagens, o que ajuda a reduzir a dor e o impacto nas articulações. Este procedimento é seguro e oferece um alívio sintomático significativo para os pacientes.

Artroscopia do joelho, ombro e quadril

A artroscopia é uma intervenção cirúrgica minimamente invasiva que permite a exploração e tratamento das estruturas internas de uma articulação usando um instrumento chamado artroscópio. Este procedimento é frequentemente realizado nas articulações dos ombros, cotovelos, tornozelos, quadris, mãos, pulsos e, mais comumente, joelhos. A cirurgia geralmente dura de 45 minutos a 1 hora, dependendo do caso específico.

Laserterapia

A laserterapia é um tratamento que utiliza luz para estimular a circulação sanguínea, reduzir a inflamação e promover a regeneração dos tecidos. É eficaz na redução da inflamação e alívio de dores crônicas ou agudas, além de acelerar a recuperação pós-cirúrgica.

Para saber mais sobre como a medicina regenerativa pode ajudar no manejo da dor, assista ao vídeo abaixo com o pesquisador referência na área Dr. José Fábio Lana, também membro ativo da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia) e da SBTOC (Sociedade Brasileira de Terapia por Ondas de Choque):

 

 

PRINCIPAIS MITOS E VERDADES SOBRE A DOR CRÔNICA
“Para curar a dor crônica, é necessário apenas tratar a causa subjacente.” MITO

 

A dor crônica muitas vezes persiste mesmo após a causa inicial ser tratada, devido a alterações no sistema nervoso central que perpetuam a dor, exigindo um manejo complexo e multifacetado.
“Mesmo a dor crônica leve deve ser examinada por um médico.” VERDADE É importante buscar ajuda médica mesmo para dores leves para evitar agravamento e obter um diagnóstico adequado.
“Descansar é geralmente a melhor cura para a dor.” MITO Embora o descanso possa ser necessário, a atividade física moderada e outros tratamentos ativos são frequentemente mais eficazes para gerenciar a dor crônica.
“Raramente existe um único tratamento que irá curar a dor crônica.” VERDADE Um tratamento multidisciplinar e personalizado é essencial para abordar a complexidade da dor crônica de forma eficaz.
“O aumento da dor é inevitável à medida que envelhecemos.” MITO A dor não deve ser aceita como parte inevitável do envelhecimento; é fundamental buscar tratamento, não importa a idade.
“É possível ter qualidade de vida convivendo com a dor crônica.” VERDADE Mesmo convivendo com a dor crônica, é possível alcançar uma boa qualidade de vida com tratamentos apropriados e estratégias eficazes de controle.

 

Como lidar com a dor crônica no dia a dia?

Gerenciar a dor crônica no dia a dia pode ser desafiador, mas existem estratégias e recursos disponíveis para ajudar a melhorar a qualidade de vida e reduzir o desconforto. Confira!

Exercícios leves: praticar atividades físicas de baixo impacto, como caminhadas suaves, ioga ou natação, pode ajudar a melhorar a flexibilidade e reduzir a dor. É importante sempre consultar um médico antes de realizar uma atividade física.

Técnicas de relaxamento: meditação, respiração profunda e massagem podem aliviar a tensão muscular e diminuir a percepção da dor.

Dieta saudável: manter uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes pode contribuir para reduzir a inflamação e fortalecer o corpo para lidar com a dor.

Uso de ferramentas de apoio: utilizar almofadas ergonômicas, travesseiros ortopédicos e outros dispositivos de suporte pode ajudar a aliviar a pressão sobre áreas doloridas e melhorar o conforto durante as atividades diárias.

Apoio social e psicológico: familiares, amigos e grupos de apoio podem fornecer suporte emocional e prático. Além disso, considerar a terapia psicológica ou aconselhamento pode ajudar a desenvolver estratégias de enfrentamento e promover o bem-estar emocional.

 

O alívio da dor é um objetivo importante para a melhoria da qualidade de vida e atividade diária em pacientes com doenças que envolvem as articulações, em condições agudas ou crônicas.

Fonte: Sociedade Brasileira para Estudo da Dor

 

Agora que você já compreendeu a complexidade da dor crônica, suas possíveis causas e as diversas abordagens de tratamento, é importante lembrar que essa condição pode impactar significativamente sua qualidade de vida. Não ignore as dores persistentes; buscar ajuda médica é fundamental para encontrar alívio e retomar o bem-estar.

Convidamos você a conversar com a equipe do BIRM, onde profissionais especializados estão prontos para oferecer uma avaliação completa e explorar as melhores opções de tratamento para você. Sua saúde merece toda a atenção.

 

FAQ

  1. O que é dor crônica?

Dor crônica é uma condição caracterizada pela persistência da dor por um período prolongado, geralmente além do tempo normal de cura, afetando significativamente a qualidade de vida.

  1. Quais as causas para dor crônica?

As causas da dor crônica podem ser variadas, incluindo lesões traumáticas, doenças degenerativas, condições neuropáticas e fatores psicossociais, entre outros.

  1. Quais tratamentos estão disponíveis para dor crônica?

Existem diversos tratamentos para dor crônica, que podem incluir terapias medicamentosas, intervenções não invasivas como fisioterapia, procedimentos minimamente invasivos e, em alguns casos, cirurgias. A abordagem ideal depende das características específicas de cada paciente e da causa subjacente da dor.

Dr José Fábio Santos Duarte Lana

  • Graduado em Medicina com Residência Médica em Ortopedia e Traumatologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
  • Fellowship em Medicina Esportiva realizado em Barcelona, na Espanha.
  • Especializações em Traumatologia Desportiva, Cirurgia do Ombro e Cotovelo, Cirurgia Artroscópica e Cirurgia do Joelho.
  • Diplomado pelo American Board of Regenerative Medicine (ABRM) e Fellow pela American Academy of Regenerative Medicine (FAARM).
  • Membro ativo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e da Sociedade Brasileira de Terapia por Ondas de Choque (SBTOC).